É possível aplicar os conceitos da indústria 4.0 à produção de laticínios? Confira no artigo de Pedro Couto.
Muito se tem falado da Indústria 4.0 ou quarta revolução industrial, mas como podemos trazer esses conceitos para um laticínio hoje? Como aplicá-los e gerar resultado? Nesse artigo, busco responder a essas perguntas e compartilhar um pouco da visão que tenho sobre o assunto.
O termo indústria 4.0 surgiu em 2011 na Alemanha, como resultado de um projeto unindo empresas, universidades e governo. A ideia era modernizar e melhorar a indústria local, informatizando-a e utilizando a crescente tecnologia disponível.
De acordo com relatório apresentado pelo Boston Consulting Group (BCG) são dez as tecnologias que caracterizam a Indústria 4.0.
AS 10 TECNOLOGIAS DA INDÚSTRIA 4.0
- Robôs Inteligentes, capazes de interagir com outras máquinas e com os seres humanos, atuando de maneira mais flexível e colaborativa;
- Manufatura Aditiva e Híbrida, permitindo a produção através de impressoras 3D;
- Simulação Virtual, esta etapa permite que os processos e produtos sejam testados e ensaiados
durante a fase de concepção, reduzindo os custos com eventuais falhas e o tempo de projeto; - Integração Horizontal e Vertical dos Sistemas, sistemas ERP, MES, SAP que integram toda a cadeia de valor produtiva, por meio da análise e tomada de decisão baseada em dados;
- Internet das Coisas, permite conectividade entre os diversos dispositivos flexibilizando o acesso e controle em todo o processo produtivo;
- Big Data & Analytics, sistemas inteligentes que identificam falhas nos processos, melhorando a qualidade da produção em tempo real, economizando energia e melhorando a eficiência na utilização de todos os recursos produtivos;
- Cloud Computing, acesso ao banco de dados e ao suporte de qualquer local do planeta, permitindo a integração de sistemas e plantas em locais distintos, por vezes distantes. O controle e o suporte, da mesma forma, podem ser efetuados de maneira global;
- Segurança Cibernética, sistemas de comunicação cada vez mais seguros e evoluídos garantindo o “accountability” do processo de produção (fazer Certo a Primeira Vez, todas as Vezes);
- Realidade Aumentada, suporte que permite que o usuário atue dentro dos sistemas ciber-físicos (CPS) com uma visão e tutoria assertiva, indicando passo a passo todas as instruções e comandos necessários para um reparo, ou uma nova parametrização do processo. Com a indústria 4.0 haverá um aumento de produtividade e uma redução de custos nos processos fabris, com uma melhor utilização dos recursos e economia de energia, sendo, portanto, um sistema para auxiliar no desenvolvimento sustentável.
- Ética, princípios universais, ações que acreditamos e não mudam independentemente do lugar onde estamos. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como a “área que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas.” Para a indústria 4.0 a ética é de fundamental importância na transparência dos negócios, na cultura entre as empresas e na formulação dos preços das consultorias.
É importante enfatizar que por mais que essa revolução se baseie em tecnologia, o seu propósito é resolver problemas, melhorar a eficiência e fazer as empresas evoluírem! Interpretando a revolução como uma evolução dos sistemas produtivos industriais, podemos listar alguns benefícios previstos e já estudados, como por exemplo:
- Aumento da visibilidade na cadeia de fornecimento por meio da rastreabilidade, permitindo maior controle sobre os alimentos e aumentando a segurança;
- Máxima performance ao utilizar todo o conhecimento do processo produtivo (dados de produção) e eliminando a centralização da informação em pessoas;
- Aprimoramento da gestão de indicadores;
- Acesso as informações em tempo real e em qualquer lugar, gerando maior agilidade nas tomadas de decisão;
Mas como fazer com que os laticínios tenham esses ganhos sem fazer grandes investimentos? Vamos analisar o contexto atual. Hoje os laticínios sofrem uma exigência do SIF para medir e apresentar as informações do processo produtivo. As grandes redes fazem auditorias para certificar se a empresa tem um controle eficiente do processo produtivo e, por fim, temos um consumidor cada vez mais exigente e preocupado com a origem dos produtos. Isso tudo faz com que os laticínios gerem muitas informações. O problema é a forma de armazena-las. Hoje grande parte dessas informações se encontram em fichas de papel e arquivos de Excel. Se gasta mais tempo organizando essas informações que de fato as analisando.
COMO COMEÇAMOS A UTILIZAR OS CONCEITOS DA INDÚSTRIA 4.0 PARA CHEGAR NOS BENEFÍCIOS MENCIONADOS ACIMA?
Vamos destacar 3 pilares tecnológicos dentre os apresentados: Integração Horizontal e Vertical de Sistemas; Big Data & Analytics e Cloud Computing (itens 4, 6 e 7). Muitos laticínios já possuem essas tecnologias no seu dia a dia, e os que não possuem conseguem investir pouco e ter retorno desse investimento em pouco tempo. Neste contexto, vamos pegar como exemplo o trabalho que a IHM Stefanini faz em conjunto com a Infinite Consultores e apresentar o iTrack: um sistema de rastreabilidade e análise de produção, onde todas as informações são coletadas, organizadas e apresentadas de forma estruturada para a tomada de decisões baseadas em dados.
O fluxo de trabalho do sistema funciona da seguinte forma:
- Entrada das informações da análise do leite cru (balão de estocagem);
- Criação dos lotes definindo qual leite/soro ou lote de produto foi utilizado como matéria prima e quais suas quantidades;
- Seleção de ingredientes e fermentos utilizados na fabricação e suas quantidades (preparação de ingredientes no laboratório);
- Análises físico-químicas e microbiológicas do produto;
- Lançamento das etapas de fabricação e variáveis acompanhadas no processo produtivo;
- Lançamento das perdas diárias e por lote;
- Embalagem;
- Expedição;
- Troca;
Todas as etapas e variáveis a serem preenchidas são criadas de acordo com o fluxo real da planta, sendo o sistema facilmente adaptável a mudanças e/ou a novos produtos e fluxos de produção. Esses lançamentos fazem com que a ferramenta tenha informações muito importantes do processo. Ao centralizá-las e organizá-las, temos os seguintes relatórios:
Relatório de Rendimento: Cada barra representa o rendimento médio do dia
Não conformidades: como cadastramos um POP para cada produto, o sistema gera as não conformidades do processo automaticamente.
Rastreabilidade ascendente: Identificação de todos os ingredientes e fermentos utilizados para um lote. Isso gera agilidade e confiabilidade no processo de Recall.
Projeção de Embalagens: O sistema sabe a data de maturação de um produto. Assim que ele é fabricado, o sistema faz uma projeção de quando ele será embalado.